Psicoses

Psicose é um estado psíquico no qual se verifica alguma “perda de contacto com a realidade”, sendo a realidade entendida como uma séries de saberes, constructos e símbolos compartilhados e validados socialmente. Nos crises de psicose mais intensas podem ocorrer alucinações ou delírios, desorganização psíquica, incluindo pensamento desorganizado, agitação psicomotora, sensações de angústia intensa e opressão, e insónia grave. Durante as crises de psicose (crises psicóticas) o indivíduo tem também défice de espírito crítico e/ou discernimento, que se traduz numa incapacidade de reconhecer o carácter estranho ou bizarro do seu comportamento.

As duas doenças psiquiátricas mais comuns onde surge psicose são a esquizofrenia e a perturbação bipolar.

A esquizofrenia é uma perturbação mental complexa, que afeta de forma grave a capacidade de pensar, a vida emocional e o comportamento em geral, tendo importantes repercussões no funcionamento ocupacional e social. (1) Existem várias formas de esquizofrenia, com graus de gravidades muito diferentes. (1,2) Caraterísticos da esquizofrenia são os “sintomas psicóticos” – que incluem alucinações e delírios – mas também os défices cognitivos (dificuldades em prestar atenção, concentrar-se e abstrair-se), os sintomas negativos (p. ex. apatia, embotamento emocional e afetivo) e os sintomas afetivos (p. ex. ansiedade, depressão). (1,2)

A esquizofrenia é de causa multifatorial (não tem uma causa única). (1,2) Pensa-se que diferentes fatores – p. ex. genéticos, ambientais, uso de substâncias ilícitas – estão implicados no desenvolvimento da esquizofrenia, à semelhança do que se passa com outras doenças crónicas, como a diabetes (excesso de açúcar no sangue) e a doença cardiovascular. (1,2)
Geralmente, os primeiros sinais de esquizofrenia surgem durante a adolescência ou no início da idade adulta, mas podem surgir mais tarde. (1,2) Ambos os sexos podem vir a desenvolver esquizofrenia, sendo que no sexo masculino os sintomas tendem a surgir um pouco mais cedo. (1,2)

A esquizofrenia tem um grande impacto na vida das pessoas que dela padecem, podendo afetar de forma profunda o seu estilo de vida e a sua imagem social. (1,2)
A doença bipolar ou perturbação bipolar carateriza-se por alterações drásticas de humor, em que alternam períodos de elevação do humor – designados por episódios de mania (ou hipomania, que é uma forma mitigada de mania), que podem acompanhar-se de sintomas psicóticos durante os quais a pessoa se sente muito feliz e mais enérgica e ativa do que o normal, e períodos de humor deprimido – depressão major (também designada por perturbação depressiva major) durante os quais a pessoa tem sentimentos de profunda tristeza e quebra de energia. (1,2)

É uma perturbação psiquiátrica comum, de causa multifatorial (não tem uma causa única) mas com significativa hereditabilidade, associada a assinaláveis taxas de morbilidade e mortalidade precoce. (2)

Geralmente, a perturbação bipolar começa tipicamente na adolescência ou durante o início da vida adulta e permanece ao longo de toda a vida. (1,2) Com frequência, o diagnóstico é difícil de fazer e, em consequência, muitas pessoas com perturbação bipolar sofrem desnecessariamente durante anos ou até mesmo décadas, devido a não serem tratadas. (1,2)
Cerca de 80-90% das pessoas que padecem de perturbação bipolar têm um familiar com perturbação bipolar ou depressão major. Os fatores ambientais também têm uma grande influência: stress extremo, perturbações do sono, substâncias ilícitas e álcool podem desencadear episódios em pacientes mais vulneráveis. (1,2)

Atualmente, a perturbação bipolar classifica-se em perturbação bipolar tipo I (mania + depressão), perturbação bipolar tipo II (hipomania + depressão) e ciclotimia (presença de sintomas de hipomania e depressão, mas sem intensidade que permita diagnosticar perturbação bipolar tipo II). (2)

PREVALÊNCIA

Relativamente à esquizofrenia, a maioria dos estudos estima uma prevalência-ponto (casos de doença sintomática num curto período) de 2,1 a 7,0 por 1000 habitantes. (2) A prevalência em toda a vida, na população geral, é de 1,3%. (2)

A doença bipolar afeta cerca de 60 milhões de pessoas em todo o mundo. (1) A prevalência em toda a vida, na população geral, da perturbação bipolar I é de 0,6%, de perturbação bipolar II de 0,4% e de ciclotimia de 1,4%. (2)

SINAIS E SINTOMAS

Os sintomas da esquizofrenia dividem-se em “sintomas psicóticos” – designados por sintomas positivos; são, principalmente, as alucinações (por exemplo, ver ou ouvir coisas que não existem) e os delírios (crenças de natureza bizarra ou paranoide que não se enquadram no senso comum) – défices cognitivos (dificuldades em prestar atenção, concentrar-se e abstrair-se), sintomas negativos (diminuição ou perda da vontade, apatia, embotamento emocional e afetivo) e sintomas afetivos, como ansiedade, depressão e alterações emocionais em geral. (1,2) Os défices cognitivos e os sintomas negativos são os principais responsáveis pelas dificuldades de funcionamento social das pessoas que padecem de esquizofrenia, que dificultam muito a sua integração social. (1)

Na doença bipolar, os sintomas mais comuns durante os episódios de mania são: energia excessiva, com grande agitação e aceleração do pensamento (discurso muito rápido e por vezes confuso); sentimentos eufóricos e crenças irrealistas, que fazem com que a pessoa se sinta com uma autoestima exacerbada; diminuição da necessidade de dormir, podendo passar dias com pouco ou nenhum sono, sem se sentir cansado; descontrolo de impulsos, que pode manifestar-se por gastos excessivos e comportamentos imprudentes; conduta sexual inadequada; abuso de álcool e substâncias ilícitas e comportamentos paranoicos. (1,2)

Os sintomas de depressão major são: sentimento de tristeza (humor deprimido) profunda e perda persistente de interesse (por) ou de prazer (com) atividades que antes eram tidas como agradáveis (o que se designa por anedonia), durante pelo menos duas semanas, geralmente, acompanhados por alterações do apetite e dos padrões de sono (redução do apetite e perda de peso ou aumento do apetite acompanhado por aumento de peso), irritabilidade ou agitação, fadiga ou perda de energia, fadiga, dificuldades de concentração, indecisão, sentimentos de culpa, inutilidade, impotência e desespero ou pensamentos suicidas. (1,2)

TRATAMENTO

Na esquizofrenia, o tratamento principal são os medicamentos antipsicóticos, que são fundamentais para reduzir ou eliminar os sintomas, de modo a permitir que a pessoa que padece de esquizofrenia participe nas atividades diárias, se integre socialmente, e reduza o número de recaídas. (1,2) As recaídas são mais prováveis quando os medicamentos antipsicóticos são interrompidos ou tomados de forma irregular. Por isso, é muito importante garantir que as pessoas com esquizofrenia aderem ao plano de tratamento e de prevenção de recaídas. (1,2)
O tratamento da doença bipolar faz-se, geralmente, com medicamentos estabilizadores do humor (p. ex. lítio, valproato) e antipsicóticos. (1,2) A medicação pode ser complementada com psicoterapia. (1,2)

(1) INFORMEmente – Guia Essencial para Jornalistas sobre Saúde Mental. Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde MentalSetembro 2016. Acessível aqui
(2) Braz Saraiva C, Cerejeira J (coordenadores) . Psiquiatria Fundamental. Lidel, Lisboa; Novembro de 2014.

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