Aparelho Digestivo
Obesidade
A obesidade (e a pré-obesidade, também designada por excesso de peso) é uma doença metabólica crónica complexa, que se caracteriza por um aumento das reservas de gordura corporal; (1)
Atualmente, a obesidade tornou-se uma das principais causas de incapacidade, morbilidade* e mortalidade, e afeta, a nível mundial, não só adultos, mas também crianças e adolescentes. (1,2) É considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como o maior problema de saúde crónico global da população adulta. (1)
A obesidade e a pré-obesidade implicam um maior risco de desenvolver diabetes (excesso de açúcar no sangue) tipo 2 ou “pré-diabetes”, hipertensão arterial (pressão arterial elevada), hipercolesterolemia (colesterol elevado) e outras alterações dos lípidos (gorduras) circulantes no sangue, doença cardiovascular (DCV)**, (1-3) vários tipos de cancros, doença das articulações (osteoartrose) e outros problemas de saúde. (1,2)
Trata-se de uma doença com uma taxa de insucesso elevado no tratamento, em especial nas fases adiantadas da doença e com custos progressivamente mais elevados à medida que se instala e agrava. (2)
PREVALÊNCIA
Na Região Europeia (OMS, 2015), a taxa global de obesidade nos adultos é de 21,5% nos homens e de 24,5% nas mulheres; (1) a prevalência de pré-obesidade (excesso de peso) nas crianças menores de 5 anos é de 12,4%. (1)
Em Portugal (dados de 2012), na população adulta, entre os 18 e os 64 anos, a prevalência de pré-obesidade é de 46,7% nos homens e de 38,1% nas mulheres e a prevalência de obesidade de cerca de 20% em ambos os sexos. (2)
Em 2009, estimava-se que a percentagem de crianças portuguesas (idade entre os 2 e os 5 anos) com pré-obesidade e obesidade era de 36,2 % no sexo masculino e de 34,8 % no sexo feminino; nos adolescentes (idade entre os 11 e 15 anos) a percentagem com pré-obesidade ou obesidade era de 35,3% no sexo masculino e de 32,7% no sexo feminino. (2)
Este panorama levou a Direção-Geral da Saúde a considerar, em 2016, que “A obesidade é um dos maiores problemas de saúde pública em Portugal, encontrando-nos numa das posições mais desfavoráveis do cenário europeu, com mais de metade da população com excesso de peso e sendo um dos países do espaço europeu onde é maior a prevalência de obesidade infantil, já que 30 % das crianças portuguesas apresentam excesso de peso e mais de 10 % são obesas (…).” (2)
SINAIS E SINTOMAS
A obesidade e a pré-obesidade (também denominada de excesso de peso) são definidas e diagnosticadas por meio do cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC), que se obtém dividindo-se o peso (em kg) pelo quadrado da estatura (em metros). (1,2)
O peso saudável corresponde a um valor de IMC entre 18,5 e 24,9 kg/m2. Um valor de IMC entre 25,0 e 29,9 kg/m2 é diagnóstico de pré-obesidade; um valor de IMC igual ou superior a 30,0 kg/m2 é diagnóstico de obesidade. Ainda de acordo com o valor do IMC, a obesidade poderá ser de Grau I (30,0 a 34,9 kg/m2), Grau II (35,0 a 39,9 kg/m2) ou Grau III (≥ 40 kg/m2). (1,2)
A obesidade e a pré-obesidade estão associadas a um risco aumentado de mortalidade por doença cardiovascular e de mortalidade total. (3) Nos adultos com menos de 60 anos de idade, a mortalidade total é menor para um IMC de 20 a 25 kg/m2. (3)
A acumulação de gordura intra-abdominal (também designada por gordura visceral) associa-se, em particular, a risco de desenvolvimento de diabetes tipo 2 ou “pré-diabetes, hipertensão arterial (pressão arterial elevada), hipercolesterolemia (colesterol elevado) e outras alterações dos lípidos (gorduras) circulantes no sangue, e DCV**. (1-2) Para avaliar a gordura intra-abdominal (ou gordura visceral) utiliza-se o perímetro da cintura (ou perímetro abdominal) ou a razão perímetro da cintura/perímetro da anca. (1,2)
TRATAMENTO
De acordo com a “European Association for the Study of Obesity” (Associação Europeia para o Estudo da Obesidade) (2015), os princípios gerais de tratamento da obesidade e da pré-obesidade são os seguintes: (1)
– Dado que a obesidade é uma doença crónica, o controlo do peso precisará de ser mantido ao longo da vida;
– O tratamento da obesidade e da pré-obesidade tem objetivos mais amplos do que apenas a perda de peso e inclui também a redução do risco de DCV** e de outros riscos de saúde, o tratamento das doenças associadas e a melhoria da qualidade de vida;
– Podem ser alcançados benefícios significativos mesmo com uma perda de peso modesta (isto é, uma redução de 5 a 10% do peso inicial);
– Para reduzir o peso estão indicadas a intervenção sobre o estilo de vida (passar a ter uma alimentação saudável*** e fazer exercício físico****), a terapêutica com medicamentos antiobesidade e a cirurgia (cirurgia metabólica e cirurgia bariátrica).
Notas:
*Morbilidade é a taxa de portadores de determinada doença em relação à população total estudada, em determinado local e em determinado momento.
**A doença cardiovascular (DCV) engloba a doença vascular cerebral – que inclui o acidente vascular cerebral (AVC) e o acidente isquémico transitório (AIT) – a doença cardíaca isquémica – que inclui a “angina de peito” e o “ataque cardíaco” (enfarte do miocárdio) – e a doença arterial periférica.
***Recomenda-se o aumento do consumo de legumes, frutos e produtos láteos com baixo teor de gordura; comer peixe pelo menos duas vezes por semana e 300-400 g/dia de frutos e legumes, restrição de sal para 5-6 g por dia e moderação do consumo de álcool (no máximo, não deve consumir-se mais de 20-30 g de etanol/dia, no caso dos homens, e mais de 10-20 g de etanol/dia, no caso das mulheres). (4)
**** É recomendado fazer exercício físico regular – pelo menos menos 30 min de exercício dinâmico moderado (p. ex. marcha) – 5 a 7 dias por semana. (4)
1. Yumuk V, Tsigos C, Fried M, Schindler K, Busetto L, Micic D, Toplak H; Obesity Management Task Force of the European Association for the Study of Obesity. European Guidelines for Obesity Management in Adults. Obes Facts. 2015; 8(6): 402-24.
2. Direção-Geral da Saúde. Departamento da Qualidade na Saúde. Processo Assistencial Integrado da Pré-Obesidade no Adulto. Direção-Geral da Saúde. Ano 2016, 2.ª edição (versão eletrónica).
3. Corrà U, Cosyns B, Deaton C, Graham I, Hall MS, Hobbs FD, et al. Authors/Task Force Members. 2016 European Guidelines on cardiovascular disease prevention in clinical practice: The Sixth Joint Task Force of the European Society of Cardiology and Other Societies on Cardiovascular Disease Prevention in Clinical Practice (constituted by representatives of 10 societies and by invited experts) Developed with the special contribution of the European Association for Cardiovascular Prevention & Rehabilitation (EACPR). Eur Heart J. 2016 Aug 1; 37(29): 2315-81.
4 – Tradução Portuguesa das Guidelines de 2013 da ESH/ESC para o Tratamento da Hipertensão Arterial (tradução revista pela Sociedade Portuguesa de Hipertensão). Revista Portuguesa de Hipertensão e Risco Cardiovascular. Janeiro-Fevereiro 2014; 39 (Suplemento): 3.
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