Ansiedade e Depressão
A ansiedade é um mecanismo adaptativo, transitório, de resposta a situações de stress* (1,2,3) É normal sentir ansiedade antes de um exame, quando se têm problemas no trabalho ou quando é necessário tomar uma decisão importante. (1) Todavia, se a ansiedade for exagerada e prolongada, estaremos perante um problema de saúde. (1)
As causas de ansiedade exagerada e prolongada incluem doenças ou síndromes médicas, como a hipertensão arterial (HTA), o hipertiroidismo, a hipoglicemia (valor de açucar no sangue abaixo do normal), prolapso da válvula mitral do coração, tromboembolia pulmonar, doenças (perturbações) psiquiátricas, como a perturbação de pânico e a perturbação de ansiedade generalizada, e perturbações relacionadas com o consumo de substâncias lícitas (tabaco, álcool) ou ilícitas (canábis, cocaína, alucinogénios, etc.). (2)
Relativamente à ansiedade de causa psiquiátrica apenas se pode falar em perturbações de ansiedade quando existe um medo e ansiedade desproporcionado, que perduram há pelo menos seis meses e que têm um verdadeiro impacto na vida quotidiana. (1)
As perturbações de ansiedade incluem a perturbação de pânico (caraterizada por ataques de pânico), a perturbação de ansiedade generalizada, a perturbação de ansiedade social, a perturbação de ansiedade de separação, as fobias e o stress pós-traumático, entre outras. (1,2,3,5) Todas têm em comum um sentimento de ansiedade exacerbado, que se prolonga durante vários meses e constituem as perturbações psiquiátricas mais frequente. (1,2,4)
A depressão (ou perturbação depressiva) é uma condição clínica que se caracteriza por um sentimento de tristeza (humor deprimido) e pela perda de interesse por atividades que antes eram tidas como agradáveis. Para ser considerada uma perturbação mental e não uma reação normal a momentos difíceis da vida, estes sintomas devem persistir durante pelo menos duas semanas e ser, de um modo geral, acompanhados por alterações do apetite e dos padrões de sono, falta de energia, fadiga, dificuldades de concentração, indecisão, pensamentos suicidas ou sentimentos de inutilidade, impotência e desespero. (1,2) A depressão é uma perturbação mental que pode ser grave, e não é um sinal de fraqueza ou falha de carácter. (1)
Traumas psicológicos ou abusos durante a infância e stress durante a idade adulta podem aumentar o risco de depressão. Os fatores ambientais desempenham também um papel importante na depressão, dado que um bom ambiente familiar e relações sociais saudáveis podem aumentar a resiliência aos momentos difíceis da vida. (1)
A depressão (ou perturbação depressiva) major (em que ocorrem apenas episódios depressivos) e a distimia (uma forma menos grave de depressão major) pertencem ao grupo das perturbações do humor (por isso, uma das manifestações principais da depressão major é o humor deprimido). (2) Cerca de metade das pessoas que têm um episódio de depressão major recuperam e não voltam a ter nenhum episódio. No entanto, depois de ocorrerem três episódios, o risco de reincidência aproxima-se dos 100% se não for feito tratamento de prevenção. (1)
A depressão major, mesmo nos casos mais graves, pode ser tratada e quanto mais cedo o tratamento é iniciado, mais eficiente é. (1)
PREVALÊNCIA
A ansiedade é uma das perturbações psiquiátricas mais frequentes a nível mundial – estima-se que a sua prevalência, a nível mundial, chegue perto dos 30% – e tem importantes implicações a nível da saúde mental e até física (por exemplo, os músculos ficam muito tensos), social e interpessoal, laboral ou escolar, etc. (4)
Estudos efetuados nos EUA mostraram que a perturbação de pânico ocorre em 1 a 3 de cada 1000 indivíduos. Ocorre, principalmente, em adultos jovens (idade entre os 20 e os 45 anos), em ambos os sexos, predominando no sexo feminino (relação de 3 para 1). (2)
Nos países desenvolvidos, as depressões (perturbações depressivas) são as perturbações psiquiátricas com maior prevalência. (6) A nível mundial, constituem a terceira causa de carga de doença, estando previsto que passem a ser a primeira causa em 2030, com agravamento provável das taxas de suicídio e para-suicídio. (6) A nível dos países desenvolvidos constituem já a primeira causa de carga de doença. (6)
Em Portugal, a prevalência anual das perturbações depressivas é de 7,9% e a prevalência ao longo da vida de 19,3%; das 7,9% perturbações depressivas anuais, 0,9% são consideradas ligeiras, 4,7% moderadas e 2,3% graves. (6)
SINAIS E SINTOMAS
A perturbação de pânico carateriza-se pela ocorrência súbita e inesperada de ataques de pânico, que se definem como um período de intenso medo ou mal estar acompanhado de, pelo menos quatro dos sintomas seguintes: taquicardia, palpitações, tremores, falta de ar (que se designa por dispneia), sensação de morte iminente, medo de morrer ou perder o controlo. (2) Os ataques podem ocorrer com frequência variável, desde vários no mesmo dia até poucos ao longo de um ano. (2)
A perturbação de ansiedade generalizada caracteriza-se por um estado de ansiedade excessiva persistente (que não depende do contexto e é desproporcional aos fatos que ocorrem na vida do indivíduo) na maior parte dos dias durante um período de pelo menos 6 meses e acompanha-se de sintomas físicos variados como fadiga, agitação, dores de cabeça, náuseas, dormência e “formigueiros” nas mãos e nos pés, tensão muscular, dores musculares, dificuldade de engolir, falta de ar (dispneia)/dificuldade em respirar, tremores, irritabilidade, transpiração/sudação excessiva, insónias, sensações de calor, “comichões”/vermelhidão da pele, dificuldade em se relacionar com outras pessoas ou isolamento social, dificuldade de concentração, desorientação e perda da memória. (1,5) A ansiedade é tão excessiva que prejudica a vida académica e/ou profissional, a vida familiar e a vida social. Muitas vezes, as pessoas com esta perturbação imaginam constantemente desastres relacionados a saúde, dinheiro, morte, problemas de família e problemas sociais. (5)
Os sintomas de depressão major são: sentimento de tristeza (humor deprimido) e pela perda de interesse (por) ou de prazer (com) atividades que antes eram tidas como agradáveis (o que se designa por anedonia), durante pelo menos duas semanas, geralmente, acompanhados por alterações do apetite e dos padrões de sono, falta de energia, fadiga, dificuldades de concentração, indecisão, pensamentos suicidas ou sentimentos de inutilidade, impotência e desespero (1,2)
TRATAMENTO
O tratamento das perturbações de ansiedade inclui alterações do estilo de vida, medicamentos (sobretudo medicamentos antidepressivos e ansiolíticos) e psicoterapia. (2,5)
Nos doentes com depressão major deve, de uma forma geral, ser considerado tratamento, com medicamentos antidepressivos e/ou psicoterapia. (7) Os medicamentos antidepressivos são o tratamento de primeira linha para um episódio de depressão major de intensidade moderada a grave. (7) Dependendo das características individuais e/ou solicitações dos doentes, o tratamento com medicamentos antidepressivos também pode estar indicado em episódios de depressão major de intensidade ligeira. (7) A maioria dos doentes apresentam melhorias dos seus sintomas de depressão major quando tratados com medicamentos antidepressivos, psicoterapia ou medicamentos antidepressivos e psicoterapia. (1)
Na maioria dos doentes, o tratamento da depressão major demora, no mínimo, um ano, mas para alguns doentes o tratamento deverá ser prolongado por dois ou mais anos. (2)
Notas:
*Stress significa “tensão” e inclui todas as perturbações físicas e psicológicas que prejudicam ou entravam a tranquilidade. O stress parte integrante da vida e não representa algo negativo em si mesmo: a ansiedade que provoca pode até ser saudável, já que impele muitas situações a avançarem e a resolverem-se. Desde, obviamente, que não exceda certos limites. (3)
(1) INFORMEmente – Guia Essencial para Jornalistas sobre Saúde Mental. Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde MentalSetembro 2016. Acessível aqui.
(2) Braz Saraiva C, Cerejeira J (coordenadores). Psiquiatria Fundamental. Lidel, Lisboa; Novembro de 2014.
(3) Fundação Portuguesa de Cardiologia. Acessível aqui.
(4) Portal da Saúde Mental. Acessivel aqui.
(5) Transtorno de Ansiedade Generalizada. Acessível aqui.
(6) Programa Nacional para a Saúde Mental. Saúde Mental em números – 2013. Lisboa: Direção Geral da Saúde; 2013.
(7) Bauer M, Pfennig A, Severus E, Whybrow PC, Angst J, Möller HJ; World Federation of Societies of Biological Psychiatry. Task Force on Unipolar Depressive Disorder. World Federation of Societies of Biological Psychiatry (WFSBP) guidelines for biological treatment of unipolar depressive disorders, part 1: update 2013 on the acute and continuation treatment of unipolar depressive disorders. World J Biol Psychiatry. 2013 Jul; 14(5): 334-85.
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